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Meio Ambiente

Nova espécie de microcrustáceo é descoberta em Iguape

Para pesquisadora, número de espécies conhecidas em águas interiores está subestimado

Publicado em 24/02/2021 às 08:02

Uma parceria entre professores e alunos de três universidades brasileiras resultou na descoberta de um novo microcrustáceo no rio Ribeira de Iguape, no município de Iguape (SP), durante as atividades de pesquisa coordenada pela professora Giovana Bertini, da Unesp (câmpus de Registro). O projeto tem como foco o levantamento das espécies de camarões carídeos e suas formas larvais presente no plâncton do rio Ribeira de Iguape, no litoral sul do estado de São Paulo.

A espécie pertence à classe Branchiopoda (animais que literalmente respiram pelas patas) e é subordinada à superordem Cladocera. Estes animais são conhecidos popularmente como pulgas d’água e são muito comuns em corpos de água doce.

O novo microcrustáceo foi coletado durante a realização do projeto de pesquisa vinculado à Fapesp e coordenado por Giovana Bertini O material referente ao zooplâncton, entretanto, foi analisado pela aluna do curso de Engenharia Agronômica Daniele Bastos de Freitas, durante seu projeto de iniciação científica, também vinculado à Fapesp. Na biologia marinha, zooplânctons representam o conjunto dos organismos aquáticos que não têm capacidade fotossintética e que vivem dispersos na coluna de água, locomovendo-se de acordo com o movimento das águas.

A identificação e descrição morfológica da nova espécie foi efetuada em parceria com os professores Francisco Diogo R. Sousa, da Universidade Federal de Jataí (UFJ) e Gilmar Perbiche Neves, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Segundo os pesquisadores, o nome científico foi escolhido para homenagear a professora Lourdes Maria Abdu Elmoor-Loureiro, por sua importante contribuição à ecologia, biogeografia e taxonomia de cladóceros no Brasil e na América do Sul, sendo assim denominada de Macrothrix lourdesae.local-coleta.jpgLocal 

Sobre o projeto

A proposta da pesquisa que encontrou a nova espécie é determinar a composição, a abundância e a distribuição espaço-temporal da comunidade mesozooplanctônica e, em especial dos cladóceros presentes no Canal Valo Grande.

O canal Valo Grande foi construído no início do século XIX e liga o rio Ribeira de Iguape diretamente ao Mar Pequeno. Na época da construção, o canal tinha quatro metros de largura e dois de profundidade, mas hoje, em virtude do aprofundamento do seu leito e a erosão das suas margens, o Valo Grande tem pontos com quase 300 metros de largura e sete de profundidade.

“Essa alteração tem causado grandes consequências diretas para a fauna e flora de todo o ecossistema”, explica a professora do câmpus de Registro, chamando a atenção para a inserção de um grande volume de água no sistema estuarino, provindo do rio Ribeira de Iguape. “Estudos sobre o zooplâncton neste ambiente podem levar a importantes respostas sobre os organismos que lá se desenvolvem ou que estão sendo conduzidos para esta região, visto que os estudos anteriores existentes sobre a comunidade zooplanctônica desta região datam das décadas de 70 e 80”, destaca.

Os cladóceros são importantes organismos planctônicos e litorâneos (habitat preferencial de M. lourdesae), os quais se alimentam principalmente de algas e servem como alimentos para larvas de peixes e outros invertebrados. Além disso, muitas espécies são consideradas como indicadoras de qualidade de água. Com o levantamento das espécies presentes no mesozooplâncton da região de Iguape foram obtidas vinte espécies de Cladocera distribuídas em sete famílias. O novo cladócero é pertencente à família Macrothricidae que foi uma das famílias mais diversas, sendo representada por quatro espécies.

Bertini explica que para grande parte dos pesquisadores que estudam a biodiversidade em águas interiores no Brasil, é consenso que o número de espécies conhecidas ainda representa, de fato, uma subestimativa da realidade. “A presença de M. lourdesae em um dos estados brasileiros mais bem estudados em relação a fauna aquática nos mostra que ainda existe uma elevada diversidade de espécies a ser descoberta”, destaca a professora.

O artigo científico com a descrição da espécie nova foi publicado na revista Zootaxa, uma das mais importantes sobre a taxnomia de animais. A íntegra do artigo pode ser encontrado no link: https://www.biotaxa.org/Zootaxa/article/view/zootaxa.4926.1.6


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