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Tecnologia no agro

Embrapa e parceiros desenvolvem ações de inclusão digital em dez municípios

SP vai receber mais três Distritos Agrotecnológicos, entre eles, Jacupiranga, no Vale do Ribeira, selecionados para as atividades

Publicado em 02/12/2023 às 11:13

Prefeito de Jacupiranga, membros da Embrapa e o presidente da ABAVAR (Foto: Abavar)

O Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (CCD-AD/Semear Digital), coordenado pela Embrapa Agricultura Digital e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), está desenvolvendo ações de inclusão digital em dez municípios distribuídos pelas cinco regiões do País. A iniciativa tem o potencial de alcançar até 14 mil pequenas e médias propriedades rurais.

Atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação em tecnologias emergentes serão realizadas em ambientes de produção, denominados Distritos Agrotecnológicos (DATs). Há dois anos, estão em funcionamento pilotos do projeto nos municípios paulistas de Caconde e São Miguel Arcanjo. O estado de São Paulo vai receber mais três DATs: em Jacupiranga, Lagoinha e Alto Alegre. Ainda na região Sudeste, Ingaí (MG) foi selecionada para as atividades.

As regiões Norte e Nordeste serão integradas ao projeto a partir de Breves (PA) e Boa Vista do Tupim (BA), respectivamente. Enquanto, no Centro-Oeste, participa a cidade de Guia Lopes da Laguna (MS) e, representando o Sul, estará Vacaria (RS). A partir de agora, serão realizados diagnósticos socioeconômicos em cada DAT e identificados os pontos focais e as propriedades rurais referência. Veja no box as cadeias produtivas contempladas em cada município.

“Não adianta construir um projeto de inclusão digital sem envolver e ouvir produtores e produtoras sobre suas demandas”, destaca a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, idealizadora da iniciativa e pesquisadora responsável pelo Centro. “O Semear Digital vai atuar junto a associações e cooperativas do setor produtivo de forma interdisciplinar e colaborativa entre as instituições parceiras nas dimensões da pesquisa e inovação, conectividade e capacitação”, completa.

O modelo de operação do Semear Digital explora a agricultura digital inclusiva em seu potencial de reduzir assimetrias de mercado, atuar no bem-estar social das comunidades e transformar-se em pilar para o desenvolvimento sustentável dos múltiplos atores das cadeias produtivas envolvidas, destaca Massruhá.

“O centro oferecerá conectividade e tecnologias digitais para pequenos e médios produtores, proporcionando aumento da renda e o acionamento de serviços técnicos via web”, diz Marcio de Castro Silva Filho, diretor científico da Fapesp.

O Semear Digital vai propor soluções adaptadas às diversas realidades rurais no País e, por meio de parcerias, identificar gargalos de conectividade e propor soluções em comunicação; pesquisar, desenvolver e validar tecnologias habilitadoras para soluções digitais. E, ainda, capacitar produtores, técnicos agrícolas e consultores em tecnologias digitais por meio de associações de produtores, cooperativas, escritórios de extensão rural públicos ou privados.

Entre os potenciais parceiros do projeto, a depender do estágio do DAT, estão: produtores e cooperativas, grandes empresas fornecedoras, startups e programas de apoio ao empreendedorismo e inovação aberta, agentes financeiros e públicos das esferas federal, estadual e municipal, além de instituições de ensino e pesquisa.

PESQUISA COLABORATIVA

O diálogo entre as diferentes instituições e disciplinas, a criação de metodologias que possibilitem abordagens similares para diversas áreas e culturas, bem como a falta de familiaridade das comunidades rurais no campo da agricultura digital, estão entre os desafios da pesquisa na consolidação de novas ferramentas voltadas à inclusão digital de pequenos e médios produtores rurais. A avaliação é do cientista chefe do Centro Semear Digital e professor da Esalq/Usp, Durval Dourado Neto (em amarelo, no centro da foto).

Coordenador do Grupo de Políticas Públicas da faculdade, ele destaca a contribuição do centro também neste âmbito, a partir da expertise das equipes em pesquisa na agricultura. “O contato com os ambientes de produção será de extrema importância para identificar os melhores caminhos para avançarmos no conhecimento científico, gerando soluções que atendam às necessidades de cada um dos DATs”, diz.

A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) também integra o consórcio ao lado do Instituto Agronômico (IAC/SP), do Instituto de Economia Agrícola (IEA/SP), Universidade Federal de Lavras (UFLA) e do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), além do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD).

A Embrapa contará, inicialmente, com o envolvimento de equipes de oito centros de pesquisa de modo a abranger regiões e temáticas: Embrapa Amazônia Oriental, Embrapa Uva e Vinho, Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa Mandioca e Fruticultura, Embrapa Cerrados, Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Pecuária Sudeste e Embrapa Instrumentação.

Os municípios que receberão os DATs foram selecionados de forma técnica com metodologia que utilizou indicadores socioeconômicos, como densidade demográfica, educação, infraestrutura, uso de internet e de computadores. Segundo o professor da Esalq, foram elencados municípios com pontuação mediana do ponto de vista de adoção de novas tecnologias, apresentando potencial para serem beneficiados pela infraestrutura a ser criada no contexto dos DATs.

Critérios de trabalho de campo como logística e apoio técnico, diversidade de biomas e atividades agropecuárias definiram a escolha final dos municípios. A estruturação do levantamento utilizou informações estatísticas de instituições públicas de reconhecida capacidade técnica. Entre elas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados do último censo agropecuário, realizado em 2017.

Foram considerados 34 indicadores, capazes de caracterizar os municípios nas diferentes regiões do País para que houvesse uma escolha assertiva e aderente aos objetivos do Centro, explica Priscilla Fagundes, diretora técnica do IEA, responsável pela metodologia adotada. “Estudos aplicados nos municípios piloto trouxeram informações úteis para a execução dos trabalhos nos demais DATs, uma visão de diferentes cenários, facilitando sua expansão no âmbito do Centro”, avalia a especialista.

As cadeias produtivas contempladas a partir dos DATs piloto foram a cafeicultura, em Caconde, e fruticultura e horticultura no município São Miguel Arcanjo. Na chegada do projeto, as comunidades rurais encontravam-se em distintos estágios de conectividade. No primeiro caso a rede de internet já estava instalada, estrutura que faltava aos produtores dedicados ao cultivo de hortifrútis. A agregação de valor está no centro das demandas apontadas pelas comunidades rurais dos DATs piloto.

Segundo a coordenadora de parcerias do Semear Digital e pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital, Luciana Romani, 63 produtores de uvas e hortifrútis foram atendidos com conectividade proporcionada no DAT experimental, no município paulista de São Miguel Arcanjo, conduzido pelo CPQD. Pesquisa realizada junto ao público atendido apontou aumento médio de 28% de receita e 24% na redução média de custos.

Cerca de 60% dos produtores observaram melhoria na qualidade dos produtos. O trabalho foi reconhecido com o Prêmio ABDI Anatel de Redes Privativas, na categoria Rede Privada-Agro, em setembro último.Também o presidente do Sindicato Rural de Caconde e ponto focal do DAT do município, Ademar Pereira, avalia que os impactos positivos da presença do projeto já são perceptíveis, com a atração de instituições públicas e privadas para a área rural.

“Precisamos de técnicos sensíveis, somos dependentes de políticas públicas e, agora, elas estão chegando também com o Semear Digital. Testemunhamos a chegada da conectividade no campo. Hoje, em Caconde, são 73 antenas, 1.350 assinaturas de internet. Dá certo a gente se organizar”, assegura.

PRÓXIMOS PASSOS

Após a incorporação dos novos municípios ao Semear Digital serão realizados diagnósticos socioeconômicos para cada localidade, analisando as atividades agropecuárias predominantes. O objetivo é alinhar as necessidades das cadeias produtivas identificadas às demandas digitais dos produtores e às soluções tecnológicas oferecidas. O levantamento vai apontar as propriedades que atuarão como referência em cada DAT.

A fase inicial de identificação de demandas é etapa fundamental para que os resultados sejam consolidados, observa o professor da Esalq. “A construção e articulação dos arranjos institucionais locais será fundamental para que os resultados obtidos na pesquisa possam validar estratégias e soluções tecnológicas que impactem positivamente esses locais”, argumenta.

 

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