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Agrofloresta

Sistemas Agroflorestais conjugam plantio com regeneração de ecossistemas

Programa melhora a produção da agricultura familiar e valoriza espécies nativas e plantas que protegem o solo

Publicado em 27/12/2023 às 09:17

Estimular a produção de alimentos e o manejo da terra ao mesmo tempo e no mesmo espaço em que se recupera a vegetação nativa pode parecer inconciliável, mas, na verdade, já é uma realidade nas propriedades que adotam Sistemas Agroflorestais (SAFs) no Estado de São Paulo. Este modelo de cultivo, estimulado pela Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), tem contribuído para mudar a realidade da agricultura familiar pela capacidade de produzir uma quantidade maior de metros quadrados do que os sistemas tradicionais, além de permitir a regeneração de ecossistemas a partir da reintrodução de espécies nativas, e garantir a redução da aplicação de defensivos agrícolas. 

O conceito de agroflorestas é relativamente simples: as árvores nativas convivem em harmonia com espécies que têm relevância agronômica, como plantas frutíferas ou hortaliças, e com espécies forrageiras, utilizadas para alimentar os rebanhos. Assim, o solo é recuperado, ganha mais nutrientes, a cada ciclo de colheita, e fica mais resistente aos eventos climáticos extremos; o escoamento da água para o lençol freático é ampliado e, como consequência, há um reequilíbrio da fauna e da flora. 

“Esse é o princípio que norteia a nossa ação, a regeneração da floresta, por meio de uma economia viável e mais sustentável”, avalia o subsecretário de Meio Ambiente, Jônatas Trindade.

Adepto do sistema desde 2011, o produtor José Ferreira da Silva, do Assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto, resume as agroflorestas em três princípios – cobertura de solo, sucessão e estratificação – “São intervenções que permitem muitas espécies por metro quadrado, vamos manejando e deixando as que queremos”, acrescenta ele, que foi um dos participantes de uma das oficinas oferecidas pela Semil. 

Nesta combinação, vegetais são cultivados em um mesmo espaço, e de acordo com o seu ciclo de vida (sucessão); árvores nativas são inseridas para maior proteção das espécies menores e do solo (estratificação); e o solo é enriquecido ou protegido de chuvas e do sol com folhas, galhos, raízes e cascas da própria agrofloresta ou até mesmo com rejeitos de podas urbanas. A sucessão também gera as chamadas placentas – plantas com ciclo de vida de, no máximo, um ano que, depois de dar frutos ou tubérculos, podem ser aproveitadas para cobertura de solo.

Outro ganho ambiental importante é a quase inexistência de agrotóxicos, considerados necessários na maioria das monoculturas. “O segredo é plantar com adubação verde e ter placenta para preparar o solo. Também uso muita poda. É isso, além de diversidade e planejamento, que se quer para cada sistema: fruta, horta, madeira ou animais”, afirma o produtor, que produz diversas frutas e leguminosas em quatro hectares próximo a uma cabeceira de nascente.

“É um modelo que copia a natureza, gosto de chamar de biomimética”, complementa Gilberto Ohta de Oliveira, produtor rural em Sete Barras, no Vale do Ribeira, que começou a deixar a monocultura de banana e gengibre, em 1999, e hoje produz diferentes variedades de banana, jussara, palmito pupunha, grumixama, pitanga, cajá-manga, limão e cambuci. 

Além do cultivo, Otha também abriu quase 3 mil metros de ecotrilha, onde podem ser observadas exemplares da flora da Mata Atlântica, e viabilizou o que ele mesmo define como “agro relaxo”: deixa a natureza se encarregar do processo, fazendo pequenas intervenções. “Assim eu tenho mais ócio e qualidade de vida, que são coisas que não entram na conta”, brinca. 

Ohta, que é associado da Cooperativa da Agricultura Familiar de Sete Barras, aponta outras vantagens: a margem de lucro é melhor, pois o custo de produção por metro quadrado tende a cair com a agrofloresta consolidada, e o sistema favorece o associativismo, o empreendedorismo e a emancipação dos produtores rurais. “É preciso ter uma organização da sociedade para ter continuidade. Nos sistemas agroflorestais, geralmente os agricultores se organizam em cooperativas e negociam direto com o atacadista ou o varejista”, explica.

A Semil promove o cultivo agroflorestal por meio de vários projetos, como o Mata Ciliar, o Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS) e o Conexão Mata Atlântica. Também mantém o projeto “Monitoramento de impactos de sistemas agroflorestais no Estado de São Paulo sobre a proteção e conservação dos recursos hídricos e da biodiversidade”, financiado pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos. 

MONITORAMENTO – Germano Chagas, doutorando da ESALQ/USP, analisa as informações de monitoramento coletadas em SAFs implantados de 2015 a 2017 no Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável – PDRS. “Em 25 das áreas monitoradas, num total de 21,6 hectares, foram produzidos 392.7 kg de alimentos, de 122 produtos diferentes, com destaque para mandioca, bananas e mangas. As atividades de colheita, manejo, plantio, capinas e roçadas corresponderam a 84% do total de horas trabalhadas”, disse. As análises realizadas também indicam, entre o grupo estudado, um avanço no uso de cobertura morta no solo, redução da matocompetição, uso de árvores em áreas além dos SAFs, melhoria nas técnicas de controle de doenças e pragas, além da redução no uso de agrotóxicos. 

Os SAFs são uma das opções para ampliação da vegetação no Estado de São Paulo definidas no Refloresta SP e informações sobre mais resultados do Projeto FEHIDRO de Monitoramento de SAF podem ser obtidas por meio do e-mail cfb.projetos@sp.gov.br. 

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