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Teatro

Único espetáculo no mundo com sobreviventes da bomba atômica chega ao Vale

No espetáculo são contados os momentos da explosão nuclear na cidade de Hiroshima, no Japão, em 1945, os dias seguintes e a imigração para o Brasil

Publicado em 09/06/2024 às 11:49

O espetáculo "Os três sobreviventes de Hiroshima" se difere de qualquer outro espetáculo do país e do mundo, pelo fato de ser único no mundo realizado com os próprios sobreviventes da bomba atômica, além de não se ter notícias de outra iniciativa do gênero. No palco, três histórias de sobreviventes (um deles sendo interpretado pelo ator Ricardo Oshiro e os outros dois ao vivo) do primeiro ataque nuclear da história fazem seus depoimentos de uma das piores tragédias da humanidade. São contados os momentos da explosão nuclear na cidade de Hiroshima, no Japão, em 1945, os dias seguintes e a imigração para o Brasil.

A peça reconstrói a história do jovem Takashi Morita na época com 21 anos e das crianças Kunihiko Bonkohara com 5 anos e Junko Watanabe com 2 anos, que estavam em Hiroshima no dia do bombardeio. Em cena, eles atuam no formato de teatro-documental, também conhecido como biodrama. Fotos originais e canções da época executadas pelos sobreviventes compõem o clima da apresentação. Com roteiro e direção de Rogério Nagai, o espetáculo deu origem ao projeto Sobreviventes pela Paz, que tem por objetivo colocar sobreviventes de grandes tragédias da humanidade para semear a cultura de paz. A ideia surgiu em 2012, foram doze meses de pesquisa e quatro meses para criação do roteiro e montagem do espetáculo.

O projeto já foi visto por mais de 30.000 pessoas e já passou por diversas cidades do Brasil. As sessões lotadas e com muitos espectadores para fora do teatro consagraram o sucesso do espetáculo. Será a primeira vez que o espetáculo vem a cidade e com única apresentação.

O texto, ainda que trate de uma tragédia, leva uma reflexão sobre a paz por onde passa, com uma mensagem forte de resiliência, perdão e superação. Colocar os sobreviventes em cena é uma maneira que o projeto encontrou de mostrar a importância de propagar a paz, para que acontecimentos como esse nunca mais aconteçam. O espetáculo é uma realização da Fábrica de Cultura de Iguape, através da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo com produção da Nagai Produções e apoio cultural da ACNBI – Associação Cultural Nipo-Brasileira de Iguape. A entrada é franca. É a primeira vez que a peça vem a cidade de Iguape, berço da colonização japonesa no Brasil, sendo a Colônia Katsura (1913) a primeira Colônia Japonesa Oficial no Brasil.

Hiroshima

Em 6 de agosto de 1945, no estágio final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos lançaram uma bomba na cidade de Hiroshima. Três dias depois, atingiram também Nagasaki. Foram milhares de mortos e feridos, além de sobreviventes que buscaram retomar suas vidas depois da tragédia. Os números oficiais informam entre 130 e 240 mil mortos como resultado destes que foram os primeiros e únicos ataque nuclear contra civis em toda a história. No Brasil, há cerca de 60 sobreviventes das bombas de Hiroshima e Nagasaki. O espetáculo é produzido pela NAGAI Produções Artísticas e Culturais, criada em 2011 em São Paulo, que desenvolve e faz a gestão de diversos projetos artísticos e culturais pela capital e interior do Estado.

Biografia dos sobreviventes

TAKASHI MORITA - Tem 100 anos, nasceu em Hiroshima em fevereiro de 1924. Nasceu morto e foi ressuscitado pelo pai. Aos vinte entrou para a Academia Militar e foi transferido para Tóquio. Em Tóquio sobreviveu ao bombardeio incendiário que ocorreu um maio de 1945. Para estar perto da família, voltou para Hiroshima. Chegou à cidade uma semana antes do ataque com a bomba atômica. No dia da explosão marchava com um pelotão pelas ruas a cerca de 1.200 metros da explosão. Após a bomba sofreu com problemas da radiação, desenvolvendo uma espécie de leucemia. Em busca de condições de vida melhores e um clima mais favorável para sua saúde partiu para o Brasil em 1956 junto de sua família, esposa e um casal de filhos. Em 1984 teve conhecimento da ajuda que o governo japonês oferecia aos sobreviventes da bomba atômica e fundou a Associação dos Sobreviventes da Bomba Atômica no Brasil, que depois passaria a se chamar Associação Hibakusha Brasil pela Paz, para reivindicar os direitos dos Hibakushas que viviam no Brasil. Passou a ser um importante porta-voz dos sobreviventes da América do Sul junto ao governo japonês. Em 2008 fez parte do grupo que viajou no Peace Boat e participou de um congresso na ONU. A antiga ETEC Santo Amaro passou a receber seu nome em sua homenagem. Em 2015 recebeu o título de cidadão paulistano pela câmara municipal de São Paulo, e em abril desse ano lançou o livro "A última mensagem de Hiroshima" pela Universo dos Livros. Desde 2013 e até hoje protagoniza o espetáculo de biodrama (teatro-doc) "Os Três Sobreviventes de Hiroshima" dentro do projeto Sobreviventes pela Paz, atuando com mais 2 sobreviventes da bomba de Hiroshima contando suas histórias de vida para que esses horrores da guerra nunca mais aconteçam em prol da paz mundial. Em 2019 recebeu o “Colar de Honra ao Mérito” da ALESP – Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, pelos relevantes serviços prestados a comunidade em prol da paz.

KUNIHIKO BONKOHARA - Tem 84 anos, nasceu em Shizuoka e se mudou para Hiroshima 4 meses antes do lançamento da bomba, por causa do trabalho do pai, engenheiro civil, que havia sido transferido para a cidade. Tinha 5 anos no dia da explosão, estava no escritório do pai, que ficava a 2 quilômetros do epicentro da explosão. Ao ver o clarão o pai o empurrou embaixo de uma escrivaninha e o protegeu com o corpo. Os dois foram feridos com estilhaços de vidro. Voltaram para casa que estava destruída e foram atingidos pela chuva negra. A mãe e a irmã mais velha de Bonkohara que haviam sido convocadas para trabalhar no centro da cidade morreram. Bonkohara foi levado pelo pai para o interior, onde já estavam seus outros dois irmãos. Cresceu com a saúde muito frágil. Aos 11 anos teve tuberculose. E na adolescência sofria os efeitos da radiação, como feridas pelo corpo, tontura e fraqueza. Aos 20 anos foi diagnosticado com um problema cardíaco, e o médico lhe recomendou que não fizesse esforço e nem trabalhos pesados. Depois desse diagnostico, partiu para o Brasil. Trabalhou na lavoura no Paraná, como locutor de rádio em São Paulo e em cooperativas. Em 1988 se casou com uma brasileira descendente de japoneses. Em 2000 entrou para a Associação Hibakusha Brasil pela Paz. A partir de 2005 começou a fazer palestras contando sua história. Em 2010 embarcou no Peace Boat. Atualmente é vice-presidente da Associação Hibakusha Brasil pela Paz. Desde 2013 e até hoje atua no espetáculo de biodrama (teatro-doc) "Os Três Sobreviventes de Hiroshima" dentro do projeto Sobreviventes pela Paz, atuando com mais 2 sobreviventes da bomba de Hiroshima contando suas histórias de vida para que esses horrores da guerra nunca mais aconteçam em prol da paz mundial. Em 2019 recebeu o “Colar de Honra ao Mérito” da ALESP – Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, pelos relevantes serviços prestados a comunidade em prol da paz.

JUNKO WATANABE - Tem 81 anos, tinha apenas 2 anos de idade em 6 de agosto de 1945. Estava a 18 quilômetros do ponto zero. Foi atingida pela chuva negra (chuva radioativa) enquanto brincava com o irmão no pátio de um templo. Não tem memória do que aconteceu nesse dia. A família lhe escondeu o fato de ser Hibakusha, só teve conhecimento de sua condição aos 38 anos de idade. Aos 24 anos veio para o Brasil depois de se casar por correspondência com um Japonês que aqui vivia. Teve dois filhos e se dedicou a educação deles até que concluíssem os estudos. Nos anos de 1980 retornou para o Japão e lá permaneceu trabalhando por 6 anos. Aos 60 anos, depois de se aposentar, conheceu o trabalho da Associação Hibakusha Brasil pela Paz e começou a participar de suas atividades. A partir do trabalho na Associação obteve mais conhecimento sobre os horrores da bomba atômica e suas consequências. Desde 2005 faz palestras em escolas contando sua história. Em 2008 fez parte de um grupo de 103 Hibakushas que embarcaram no projeto Peace Boat e viajaram pelo mundo contando suas histórias e divulgando a cultura de paz. Desde 2013 e até hoje atua no espetáculo de biodrama (teatro-doc) "Os Três Sobreviventes de Hiroshima" dentro do projeto Sobreviventes pela Paz, atuando com mais 2 sobreviventes da bomba de Hiroshima contando suas histórias de vida para que esses horrores da guerra nunca mais aconteçam em prol da paz mundial. Em 2019 recebeu o “Colar de Honra ao Mérito” da ALESP – Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, pelos relevantes serviços prestados a comunidade em prol da paz.

SERVIÇO:

“Os três sobreviventes de Hiroshima”

Roteiro e direção Rogério Nagai.

Elenco: Takashi Morita (em vídeo), Kunihiko Bonkohara, Junko Watanabe, Ricardo Oshiro e Rogério Nagai.

Gênero: teatro-documentário.

Duração: 70 minutos.

Recomendação: 10 anos.

Local: Associação Cultural Nipo-Brasileira de Iguape

Rua Monsenhor Crescente, 94 – Centro, Iguape – SP.

Capacidade: 150 lugares.

Realização: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Cultura, Economia e Indústrias Criativas, Poiesis e Fábricas de Cultura.

Produção: Nagai Produções Artísticas e Culturais.

Apoio institucional: Aliança Cultural Brasil – Japão e Consulado Geral do Japão em São Paulo.

Apoio cultural: Associação Cultural Nipo-Brasileira de Iguape e UCES - União Cultural e Esportiva Sudoeste.

Única apresentação: Dia 22/06 - sábado às 18h.

Entrada franca, os lugares não são marcados e os locais serão ocupados por ordem de chegada.


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