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Investigação

Futuro ministro do Meio Ambiente é investigado por mandar tirar busto de Lamarca

MP diz que monumento em Cajati, tinha objetivo de aliar história e natureza; Ricardo Salles afirma que decisão estava dentro de suas atribuições

Publicado em 10/12/2018 às 23:57
Atualizado em

Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo (Foto: Divulgação)

O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é acusado pelo Ministério Público de São Paulo de ter mandado retirar do Parque Estadual do Rio Turvo, no município de Cajati, o busto, as fotos e as placas explicativas sobre a passagem do guerrilheiro Carlos Lamarca pelo Vale do Ribeira, no interior do estado. A ordem teria sido dada durante visita ao parque, no ano passado, quando Salles era secretário de Meio Ambiente de São Paulo.

Para o promotor Nilton de Oliveira Mello Neto, que apresentou ação civil pública contra Salles em agosto passado o então secretário agiu à revelia do processo administrativo legal e apenas imbuído de "patente móvel ideológico". A ação está em curso na Justiça.

O busto havia sido instalado em 2012, após decisão formal do conselho do parque, com a intenção de preservar a memória da região. Segundo o inquérito, Salles visitou o parque pouco antes de deixar o cargo, em agosto de 2017 e, quando avistou o busto, determinou ao gestor do parque, Tiago Leite Veck, que o retirasse.

O prefeito de Cajati, Lucival Cordeiro, confirmou, em depoimento, que Salles pediu ajuda da prefeitura para retirar, além do busto, todos os painéis sobre Lamarca. Os funcionários teriam feito a retirada e entregado o material para a Polícia Militar, que o levou para a sede do Comando de Policiamento Ambiental, na capital paulista. Segundo o cabo da Polícia Militar Adilson Domingues, que transportou o busto, seus superiores disseram apenas que a ordem partiu do então secretário.

O promotor afirma na denúncia que Salles tomou decisão unilateral, sem respaldo normativo, por motivos exclusivamente pessoais e sem qualquer consulta ao conselho do parque, que determinou a colocação do monumento. "(...) mostra-se evidente a afronta aos princípios norteadores da Administração Pública, notadamente da legalidade e da impessoalidade", escreveu o promotor na denúncia, acrescentando que ele "sequer se portou de forma condizente com a gestão política da época", pois o Núcleo Capelinha do parque, onde estava o busto, foi inaugurado durante a gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

No inquérito, o promotor afirma que o material sobre a passagem de Lamarca pelo Vale do Ribeira era apresentada como atrativo histórico do parque no site da Fundação Florestal.

Lamarca e outros 16 guerrilheiros da Vanguarda Popular Revolucionária (VRP) passaram pelo Vale do Ribeira em 1969, para fugir da perseguição durante a ditadura militar. A gruta da Capelinha e a Trilha do Lamarca faziam parte das atrações do parque, numa tentativa de aliar história e natureza.


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